Quando os resíduos plásticos ganham vida 3D
Converter tampas de garrafas de plástico num jogo didático, que convida as crianças a descobrirem, pelas suas próprias mãos, o que é a reciclagem. Este é o propósito do projeto ReShape IT, que, com recurso a tecnologia de impressão 3D, proporciona uma forma inovadora de valorizar resíduos.
Esta iniciativa em que a sustentabilidade e a educação andam de mãos dadas, cumprindo os princípios da economia circular, tem na sua origem o CeNTI – Centre for Nanotechnology and Smart Materials e a LIPOR. O que juntou as duas entidades foi coincidirem no entendimento de que são necessárias soluções que valorizem as toneladas de resíduos plásticos geradas diariamente e que, muitas das vezes, se acumulam em aterro.
Mas, quiseram ir mais longe, saindo da esfera da investigação para sensibilizar a comunidade, tendo identificado nas crianças os porta-vozes ideais das causas ambientais e os atores mais adequados para cumprir este duplo objetivo.
Daí a decisão de envolver a comunidade escolar da região norte, em que a LIPOR está implantada. As crianças das escolas selecionadas foram convidadas a recolher as tampas e garrafas de plástico que serviriam, depois, para testar o processo desenvolvido no centro de investigação.
É a investigadora Bruna Moura que conta os passos seguidos no projeto. Assim, foi desenvolvida uma unidade-piloto para acolher os diversos processos pelos quais os resíduos passaram: primeiro a trituração e depois a produção de um monofilamento polimérico, isto é, uma fibra sintética constituída por um único filamento, conferindo-lhe propriedades de resistência. Finalmente, tem lugar a impressão 3D, de materiais plásticos de cores e formas distintas, dando uma nova forma aos resíduos.
O intuito era conseguir demonstrar, junto das escolas, que era possível valorizar aqueles resíduos. Isto significa que o processo tinha de ser fácil, para que os próprios alunos – do primeiro ciclo, portanto, dos seis aos dez anos – poderem tratar os materiais, e que a nova forma surgisse de modo claro e simples.
O que estava em causa era sensibilizar os mais jovens para as temáticas da recolha, reciclagem e valorização de resíduos de embalagens, de uma forma dinâmica e mobilizadora.
E, por isso, numa primeira fase, foram convidados a visitar a LIPOR: e aí, perante o volume de embalagens acumulado, puderam comprovar a quantidade de resíduos que se produz no dia a dia.

Uma mensagem reforçada durante as visitas da equipa de investigação à escola: os alunos ficaram a saber mais sobre os problemas causados pela acumulação de resíduos plásticos no solo e no mar. E com uma visita ao CeNTI, testemunharam uma demonstração das diferentes tecnologias utilizadas para valorização de resíduos plásticos: trituração, extrusão para o desenvolvimento de material polimérico que pode ser usado para injeção de peças plásticas e a produção de fibras. Isto significa que, quer no caso dos polímeros quer no caso das fibras, os materiais são sujeitos a um processo mecânico que os molda, de modo a adquirirem a forma desejada para a respetiva utilização. Só depois de as fibras plásticas assumirem essa forma é que há lugar à impressão 3D.




A demonstração não se ficou por aqui: os alunos foram desafiados a tratar, na própria escola, as tampas e garrafas que haviam recolhido. Graças ao equipamento portátil, tiveram oportunidade de satisfazer a curiosidade e de aprender de uma forma muito prática, ao ver como o plástico se transformava em peças para jogos didáticos.


A investigadora Bruna Moura não tem dúvidas de que o ReShape IT “permitiu aproximar as escolas e a comunidade de processos disruptivos e diferenciadores para a valorização de resíduos”. E manifesta o desejo de que esta ação de “mãos na massa” tenha permitido criar um novo paradigma de valorização de resíduos nas crianças envolvidas.
“Espera-se que as ações realizadas tenham impacto num futuro próximo. Acredita-se que a sensibilização em ‘tenra idade’ possa permitir uma educação para a sustentabilidade e que a recolha de resíduos se torne um processo natural e de baixa complexidade no futuro. Os resultados podem não se materializar de forma clara e objetiva nesta fase, mas o objetivo é que, num futuro próximo, a recolha de resíduos e a sua valorização deixe de ser uma dificuldade e que se abram horizontes para uma recolha ainda mais pormenorizada e alargada a diferentes áreas de consumo, como são exemplo peças de vestuário, têxteis-lar, brinquedos e mobiliário”, sublinha.
O balanço do projeto é, pois, “muito positivo”. E, de acordo com a porta-voz do projeto, “o CeNTI continua à procura de novas oportunidades para prosseguir com os desenvolvimentos tecnológicos disruptivos numa ótica de economia circular e valorização de recursos, não descurando a sensibilização não só da comunidade, mas também da indústria para estas temáticas”.
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