Os plásticos da recolha seletiva de embalagens usadas têm valor. E há um projeto de ecodesign que o prova

Provar que os plásticos da recolha seletiva de embalagens usadas podem e devem ser valorizados: este é o mérito da iniciativa de design circular “Closing the loop on plastic”, que mostrou como embalagens do quotidiano como pacotes de batatas fritas, cuvetes de manteiga ou copos de iogurte sólido podem seguir o caminho da reciclagem e do upcycling, transformando-se em brinquedos.

Tudo começou como uma prova de conceito da empresa Givaware. É o design manager, Jorge Ribeiro, que conta que a ideia de trabalhar numa solução de transformação de plásticos da recolha seletiva de embalagens usadas, isto é, embalagens compostas por vários tipos de plásticos (como as indicadas acima), nasceu numa reunião com a Sociedade Ponto Verde.

E porque é que estes plásticos não seguem diretamente para a reciclagem? Por serem heterogéneos na sua composição química, integrando diferentes tipos de polímeros, de cores variadas, e tanto podendo apresentar forma rígida ou flexível. Dada esta heterogeneidade, não reúnem as condições ideais para reciclagem.

Fotografia dos materiais

E a que problemas se refere? Até há alguns anos, estes plásticos, pela sua complexidade, pela diversidade de materiais envolvidos, pela natureza da própria embalagem ou do produto nela contido, não eram encaminhados para reciclagem. Contudo, tecnicamente têm vindo a ser desenvolvidas soluções que permitem valorizar estes resíduos, reciclando-os e dando-lhes nova finalidade.

É esse o poder da inovação, a ferramenta que a Givaware colocou ao serviço do seu projeto, na convicção de que estes resíduos têm potencial: afinal, ao serem reciclados, voltam a ser introduzidos no ciclo e dão origem a novos produtos. Mas não só. A uma melhor gestão destes materiais junta-se o impacto social, na medida em que se mostra que aquilo que se considera lixo pode ser olhado como uma matéria-prima com valor.
“Além do impacto positivo que a valorização destes resíduos pode ter, abriu-se com este projeto a possibilidade de se criarem produtos onde o novo material pode ser aplicado, pensando especificamente na área da construção, arquitetura e interiores, mobiliário, brinquedos, entre outros”, descreve.

Antes, porém, foi preciso identificar a melhor forma de valorizar estes resíduos. E qual é esse mecanismo? A criatividade. Ou não fosse a Givaware um estúdio de design circular. O que fez foi, com recurso a engenharia de materiais, desenvolver um processo industrial que permitisse transformar plásticos mistos num material com potencial de comercialização. Houve que estudar bem estes resíduos, de modo a identificar as melhores condições para os valorizar. E depois meter mãos à obra.

Esta passagem da teoria à prática permitiu que rapidamente confirmassem o potencial do material, com a empresa a desenvolver um produto para a sua marca Kuski. Trata-se de um brinquedo centrado no planeta, que é 100% reciclado e reciclável.

De que brinquedo se trata, afinal? É constituído por um molde, feito precisamente a partir de plásticos reciclados, e por uma embalagem de cartão. As crianças são convidadas a desfazer a embalagem, a fazer com ela pasta de papel e depois a preencher o molde, personalizando o seu brinquedo. Para colocarem a criatividade à prova, têm moldes com espécies que é urgente preservar, como o lince ibérico, o cachalote, o burro de Miranda ou o guarda-rios. E porque este é um projeto de sustentabilidade, o molde pode voltar a ser reciclado: basta que o utilizador devolva o produto à empresa.

O produto é um brinquedo eco educativo que tem como objetivo passar os valores da economia circular e ecologia aos mais pequenos. Com isto, assume-se que foi cumprido o objetivo de transformar ‘lixo’ num material que pode ser utilizado em vários contextos, mesmo nos mais exigentes como os produtos infantis”, partilha Jorge Ribeiro, especificando que o brinquedo está no mercado com a certificação e marcação CE.

Depois deste sucesso, a Givaware não quer parar. Está já a trabalhar num novo produto para utilização deste material em superfícies de projetos de arquitetura, oferecendo novas soluções de materiais sustentáveis num setor – o da construção – conhecido pelo potencial impacto negativo no ambiente. Afinal, interfere com os solos, é responsável pela produção de grande volume de resíduos, é um grande consumidor de recursos, como água e energia. No entanto, o setor tem dado passos no caminho da transformação e as possibilidades de transformação são vastas.

E sucesso porquê? Porque de um projeto que começou como uma prova de conceito de uma tecnologia para a valorização dos plásticos da recolha seletiva de embalagens usadas foi possível escalar para o desenvolvimento de produtos que incorporam este material e o transportam novamente para a vida das pessoas.

Fecha-se, assim, o ciclo através de um processo de upcycling que transforma as embalagens descartadas em produtos de valor acrescentado. Está explicado o nome dado a este projeto: “Closing the Loop on Plastic”.

Se também tem um projeto inovador e fora da caixa, fale connosco!