Mobile-Pro-U quer resgatar o vidro dos aterros
Portugal está comprometido com as metas europeias para a reciclagem de vidro, mas ainda há uma distância a percorrer. Há muito vidro que continua a ser depositado no lixo indiferenciado, o que inviabiliza a sua reciclagem. Contudo, uma equipa de investigação do Instituto Superior Técnico (IST) focou-se no desenvolvimento de uma solução que permite o tratamento eficaz destes resíduos: é o projeto Mobile-Pro-U.
A investigadora Maria Teresa Carvalho, professora auxiliar na instituição e uma das coordenadoras deste projeto, explica que esta linha de estudo decorre da observação de que, por um lado, as metas de reciclagem de vidro não estão a ser cumpridas em Portugal e de que, por outro, as pessoas continuam a colocar vidro de embalagem indevidamente nos resíduos indiferenciados.
O que na prática acontece é que, muitas vezes, este vidro de embalagens acaba por ser depositado no lixo indiferenciado, juntamente com os resíduos alimentares e outros resultantes do quotidiano doméstico. Em consequência, é encaminhado para as unidades de tratamento mecânico e biológico (TMB), que fazem o tratamento dos resíduos sólidos urbanos.
Nestas unidades, em que se efetua um tratamento aos resíduos sólidos urbanos, tendo em vista a sua separação por fluxos diferenciados (essencialmente a separação da matéria orgânica dos demais resíduos), de modo a maximizar a recuperação de materiais recicláveis e valorizáveis, são ainda retirados alguns materiais recicláveis.
Nas TMB, o vidro partido em pedaços de dimensão mais reduzida vai parar ao fluxo denominado “rejeitado pesado”, e isto comporta todos aqueles materiais inertes cujo fim último é a deposição em aterro.
Há, contudo, uma percentagem elevada de vidro que, devido à sua menor dimensão, acaba por ser descartada e vai parar a aterro. É este cenário que a equipa do IST se propõe alterar por via do projeto Mobile-Pro-U.
A primeira parte do projeto consistiu no desenvolvimento de uma solução técnica para a separação deste vidro de embalagem. Em causa está uma linha de tratamento que envolve processos de:
– Separação por densidade – Na prática, o que acontece é que os materiais orgânicos e perecíveis, bem como o plástico, são menos densos do que o vidro;
– Separação magnética, de modo a descartar os metais ferrosos;
– Triagem ótica com recurso a tecnologia específica para o efeito.
Antes, porém, há que tirar da equação os resíduos cerâmicos e de tijolos. E porquê este passo? É que, apesar de uma densidade semelhante à do vidro, os cacos destes materiais são um contaminante difícil de remover no processo de fabricação de novas garrafas e, portanto, geradores de problemas. É, então, necessário recorrer a um processo mecânico – com válvulas de ar comprimido – para ejetar estas partículas.
“Conseguimos, com toda esta linha de tratamento, obter um produto de vidro com muita qualidade e que é perfeitamente aceitável pelas entidades recicladoras”, conta a investigadora Teresa Carvalho.
Alcançado este objetivo, o passo seguinte é fazer com que esta solução se torne economicamente viável. Contudo, essa viabilidade está muito dependente da dimensão dos próprios operadores: não parece possível, do ponto de vista económico, colocar todo este processo em todos os sistemas de tratamentos de resíduos.
É assim que surge a ideia de uma unidade móvel de processamento e recuperação de vidro, em dois formatos: um que permita apenas o tratamento parcial, outro que possibilite o processo praticamente na íntegra – na prática, está a falar-se de um camião ou de um camião com atrelado. A intenção é que seja uma solução dinâmica. Um outro cenário seria existirem unidades móveis, complementadas com uma unidade fixa, numa zona mais populosa e com maior quantidade de resíduos. Seria, assim, um sistema misto.

“Começámos por estudar a unidade móvel, mas também percebemos que, em TMB com muito volume de resíduos, fazia sentido uma unidade fixa”, explica a professora Tânia Ramos, cocoordenadora do projeto.
A tecnologia existe e os testes em escala piloto provaram que funciona. Por concretizar está a unidade móvel, pois carece de um investimento elevado. O passo seguinte é, portanto, captar essa verba junto dos agentes económicos do setor.

“A grande questão é que, se não fizermos nada, este vidro vai parar ao aterro. E, com estas unidades de processamento, conseguimos recuperá-lo e, assim, contribuir para nos aproximarmos das metas de reciclagem”, sublinham as coordenadoras do Mobile-Pro-U.
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